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Aqui e Acolá
25 de Fevereiro, de 2021
Artigo
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By JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS
Aqui e Acolá

O impacto da pandemia no trânsito

 

No momento em que se esperava a redução dos acidentes de trânsito, como consequência natural na diminuição do fluxo de veículos, em função da política do fique em casa - stay home - e eis que se acende um sinal de alerta.

A Eastern Connecticut State University publicou, recentemente, um estudo sobre a pandemia  e o trânsito, coordenado por Mitchell Doucette, professor assistente de ciências da saúde. O trabalho analisa o impacto das medidas de lockdown no tráfego de veículos motorizados e os padrões de colisão.

A metodologia adotada nessa pesquisa e os números apresentados são significativos e podem servir de referência para estudos em outras regiões e países.

Descobriu-se que a taxa de acidentes envolvendo  um único carro aumentou mais de duas vezes, enquanto a taxa de acidentes fatais, também com um único veículo,  cresceu cerca de quatro vezes.

Os números foram comparados com dados de anos anteriores a 2020 e se concluiu que este aumento está diretamente relacionado com a pandemia e a estratégia do isolamento social. Os fatores condicionantes seriam o aumento da velocidade, estimulado por vias com menor fluxo de veículos, e a redução da presença da polícia, no período.

Segundo os pesquisadores trabalhos desta natureza são indispensáveis -  em momentos de exepcionalidade - para adoção de estratégias na prevenção de futuras lesões e fatalidades.

Importante salientar  que   estudos dessa natureza, desenvolvidos por instituições não vinculadas ao serviço público, tem um valor inestimável na avaliação dos procedimentos  adotados durante a pandemia.

O estudo da Eastern Connecticut State University, aqui referido, mostra de forma clara que a presença da fiscalização de trânsito e a certeza da punição, inibe o descumprimento da Lei. No momento que o policiamento ostensivo se flexibilizou, as pessoas deixaram de observar os limites legais e os acidentes aconteceram com maior frequência.

Ora, isso evidencia um outro lado da moeda: nos países em que  a Lei e a Ordem prevalecem,  os motoristas respeitam a legislação por uma questão de formação cultural, mas também porque conhecem o peso da mão que protege e pune. Mesmo assim, tornam-se menos rígidos ao perceberem hiatos no policiamento. Nada, entretanto, que não possa ser corrigido com medidas administrativas e de fiscalização

No Brasil, a situação é bem diferente, por aqui não bastam medidas legislativas e administrativas. A precária consciência social e a impunidade generalizada tornam dificil comprometer as pessoas para ações e compromissos coletivos.

Veja-se por um exemplo bem atual. O descumprimento por muitos, das três regras de ouro que salvam vidas: distanciamento social, uso de mácara e de álcool gel. Todos sabem que neste momento não existem outras alternativas, mesmo assim durante o carnaval repetiram-se as cenas de aglomeração.

A falta de compromisso social e de desrespeito ao próximo é perceptível a olho nú. No trânsito, esse imenso espelho da vida, é mais do que visível a conduta humana. Pode-se perceber que as próprias Leis são insuficientes para conter a guerra fratricida que se trava. Deixa claro que toda e qualquer mudança de comportamento depende do que se apreende na escola e na família.

Claro que a educação no trânsito pode ajudar, e muito, introduzindo de forma mais intensa nocões de cidadania, mas para se ter resultado, essas sementes precisam ser plantadas em terra fértil.

Importante frisar que bons motoristas com prontuários exemplares  são, na maioria,  cidadãos cumpridores de seus deveres e pais exemplares.

Em tempo como este tudo se revela e se percebe, inclusive que o bom motorista é um cidadão possuidor de um caráter consciente  e altruísta que está preocupado tanto com o outro, como consigo mesmo.

JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS

Doutor em Ciências Humanas e Mestre em História Econômica pela USP, criou e coordenou o Programa PARE do Ministério dos Transportes, foi Diretor do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, Secretário-Executivo do Gerat da Casa Civil da Presidência da República, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de
Florianópolis – Cesusc, Two Flags Post – Publisher & Editor-in-Chief.