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É o vírus...
27 de Outubro, de 2020
Artigo
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By JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS
É o vírus...

Prezado leitor, aos poucos a realidade vai se firmando ao redor de todos. O choque econômico que a pandemia provocou estende-se muito além da crise de saúde pública. A máscara, sem dúvida, pode conter a propagação do vírus, mas não o choque que desencadeou, provocando a pior e mais rápida desaceleração econômica do mundo.

Enquanto isso, a sociedade perplexa, se apresenta desprotegida perante a ferocidade de políticos inescrupulosos que travam uma insana discussão entre saúde e economia, como se não fossem complementares. De dedo em riste, os daqui e os de lá, se esquecem da causa primária. Em tal circunstância impossível deixar de parafrasear James Carville, assessor de Bill Clinton, ao referir-se as questões econômicas de sua época, e que nos dias de hoje provavelmente se diria... é o vírus, estúpido!

Mesmo que a emergência de saúde diminua rapidamente e a política do setor, como em um passe de mágica, se torne eficaz, as economias internacionais e a brasileira em particular, enfrentarão grandes desafios durante anos, resultantes da ainda inexplicável pandemia.

Entretanto, é importante destacar que o quadro seria muito mais grave, não fossem as medidas emergências tomadas pelo governo federal para proteger as famílias e as empresas, mesmo considerando que tudo isso tem um custo que não pode e nem foi desprezado em um momento de emergência social.

Segundo publicação da Carta de Conjuntura de junho deste ano, vinculada ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, a recuperação econômica de alguns setores poderá ampliar-se, em parte devido à adoção de um conjunto de medidas de preservação de renda, empregos e produção implementados para atenuar os impactos da crise.

O Brasil, apesar das marchas e contramarchas, do oportunismo político e da partidarização de algumas redações, vai cumprindo o seu dever combatendo o vírus e suas demandas que parecem não se restringir à que ataca a saúde das pessoas.

O exame de alguns aspectos do sistema circulatório de bens, permite inferir que estas intervenções tópicas surtiram alguns efeitos. Veja-se, por exemplo, o Índice da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias/ABCR, de setembro do corrente, onde se observa que o fluxo de caminhões no País cresceu 2,7% em relação ao mês anterior, com uma tendência de alta para os próximos períodos. Ao contemplar também os veículos leves a oscilação é positiva em 5,1% em relação a agosto.

Ao concentrar-se em alguns estados da Federação percebe-se que a recuperação mais expressiva do fluxo de caminhões foi no Paraná, positivo em 4,3% entre agosto e setembro e 9,9% em relação ao ano anterior. Em seguida vem o Rio de Janeiro com crescimento de 3,4% relativo ao mês de agosto e estável sobre o ano anterior. Em São Paulo o desempenho foi de 2,9% de agosto para setembro e de 4,2% entre este ano e o anterior, conforme dados publicados pela NTC & Logística.

Interessante notar os comentários de alguns caminhoneiros e condutores de veículos leves nas redes sociais, que se mostram agradavelmente surpresos com a movimentação crescente nas principais artérias do sul e do sudeste. Inclusive um vídeo que se transformou em trend topic, em que o motorista mostra uma coluna interminável de caminhões em alguns segmentos da BR 101 entre Joinville e São Paulo.

Importante observar que as mortes no trânsito caíram, em geral, ao menor número da série histórica durante o período de distanciamento social, segundo dados da Assessoria de Comunicação do Detran/RS. Entretanto, o numero de fatalidades entre motoboys cresceu 54% no estado de São Paulo, e 45% na capital. Por outro lado, segundo o Detran/SP, o índice de acidentes não fatais saltou de 4.692 em agosto de 2019 para 6.975 em 2020. 

Em função do isolamento social os acidentes declinaram em todo o mundo, assim como o consumo de combustível. No Brasil a progressão de óbitos e de acidentes não fatais envolvendo motociclistas, obviamente se explica pelo aquecido mercado de entregas.

Esses jovens, entregadores largados à própria sorte, sem suficiente resguardo jurídico e social, expõem suas vidas em jornadas de trabalho infindáveis.

Espera-se que esses heróis anônimos - que se expuseram a todo tipo de risco quando as pessoas estavam trancafiadas - tenham seus direitos garantidos, assim como já possuem o reconhecimento social que restará grafado na História do Século XXI.

JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS

Doutor em Ciências Humanas e Mestre em História Econômica pela USP, criou e coordenou o Programa PARE do Ministério dos Transportes, foi Diretor do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, Secretário-Executivo do Gerat da Casa Civil da Presidência da República, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de
Florianópolis – Cesusc, Two Flags Post – Publisher & Editor-in-Chief.