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O PREDADOR DO ASFALTO
25 de Setembro, de 2023
Artigo
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By DIRCEU RODRIGUES ALVES JUNIOR
O PREDADOR DO ASFALTO

“Está lá mais um corpo estendido no chão”.  

É inacreditável que máquinas criadas para facilitar a mobilidade do homem, passem a ser utilizadas como arma de guerra, guerra no asfalto. São hoje os instrumentos principais para aumentar a morbimortalidade. Transforma-se um instrumento extremamente útil, em armamento pesado. Reduz-se a nossa produtividade com repercussão em todos os segmentos da sociedade. O homem como agente predador, ceifando vidas, produzindo sequelados e transformando o trânsito em verdadeira batalha. Aonde chegaremos?

Isso lembra o sentimento de Santos Dumont que jamais imaginaria que a máquina mais pesada que o ar, criada por ele, serviria para destruir o homem, uma comunidade, uma cidade. E o veículo mais pesado que o ar, transitando nas vias terrestres, matando mais que os sinistros aéreos, as guerras ideológicas, religiosas e territoriais como mostra dados estatísticos da ONU e OMS, 1.300.000 mortes a cada ano no trânsito.

O último dado estatístico da Seguradora Líder dos consórcios de seguro DPVAT (Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre) realizado em 2020 serve para exemplificar o quão é violenta a mobilidade humana em nosso país.

Veja o quantitativo:

Mortes                      35.530

Invalidez Permanente                    210.042

Despesas Médicas                      67.138

Consequentemente, em 2020, entre mortos e inválidos, perdemos 245.572 cidadãos, numa faixa etária entre 18 e 34 anos, que eram potencialmente produtivos. Pensar no prejuízo momentâneo produzido nos leva a contabilizar valores de resgate, internação, cirurgias, unidade de terapia intensiva, enfermaria, fisioterapia e outras tantas coisas.

Esse é um custo alto, altíssimo, sabemos que mais para frente vamos deparar com valores incalculáveis. São despesas do governo pagas com nossos impostos. Considerando que a idade média desses jovens é em torno de trinta anos e que o brasileiro tem capacidade produtiva até os sessenta e cinco anos, teremos para cada perda, trinta e cinco anos de ausência de produção. Significa dizer que perdemos 8.595.020 anos de trabalho. Observe que tudo isso é só em 2020. Com o passar dos anos estamos tendo aumento geométrico e ao final da “Década de Ações para Segurança Viária” (2030), milhões de outros jovens e dependentes serão amparados pelos cofres públicos por falta de atitudes drásticas por parte das autoridades.

Quanto custará isso ao Estado?

Difícil calcular, mas a cadeia de produção cai, o país desce degraus amargos, a população sofre. Reduzem-se verbas para ministérios. A saúde, educação, segurança serão certamente as mais comprometidas. Caminharemos para o caos ano a ano.

O IBGE já indica que cresce de maneira preocupante a população de idosos, enquanto a de jovens, naquela faixa etária, decresce acentuadamente.

Por tudo isso posso afirmar que vivemos momento de aflição e porque não afirmar que é de desespero porque sabemos que a tendência natural é a multiplicação desordenada dessas perdas. Mais óbitos, mais sequelados, mais dependentes da contribuição da sociedade brasileira.

O investimento em educação para melhor mobilidade é o que se pode fazer hoje para redução dessa sinistralidade. O custo do investimento será insignificante com relação ao custo do futuro que antevemos.

E como seria resolvido essa sinistralidade com tantas perdas, sofrimento que assistimos passivamente, investindo no homem e na sociedade como um todo.

Estamos diante de uma doença epidêmica negligenciada pelos governos em seus vários ministérios. Todos conhecem a vacina para erradicar esse mal. Precisamos de ações multidisciplinares e consolidadas para implantar com rigor a ordem e paz no trânsito.

DIRCEU RODRIGUES ALVES JUNIOR

Diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego)