Olá, seja bem-vindo ao MONATRAN - Movimento Nacional de Educação no Trânsito
Tel.: 48999811015
você está em:Artigos|Transporte Público: A Hora e a Vez do Usuário
Transporte Público: A Hora e a Vez do Usuário
26 de Abril, de 2021
Artigo
|
By JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS
Transporte Público: A Hora e a Vez do Usuário

O mundo atravessa um dos momentos mais desafiadores dos últimos tempos. Todos os países foram afetados pelo vírus surgido na China. Os governantes amedrontados e despreparados fecharam correndo suas economias com o intuito de salvar vidas. Esqueceram-se de recorrer a História - a velha mestra da vida -  antes de tomarem suas decisões.

A inexistência  de remédios eficazes contra o vírus, fez com que a alternativa encontrada fosse restringir indiscriminadamente o contato humano. Certíssimo de um lado, mas desastroso como toda e qualquer medida pautada pela generalização e pelo medo.

A política do stay home compreensível para nações  ricas, tornou-se uma bomba disseminadora da moléstia, nos países pobres ou em desenvolvimento.  Nestes, grande parte  da população, vive  aglomerada em comunidades, onde os moradores mal cabem nos pequenos espaços que habitam e dependem do trabalho diário para se alimentarem.

No Brasil o quadro foi agravado pelo lockdown das escolas que há mais de um ano não voltam a normalidade. Falar em ensino à distância para crianças pobres, que vão a aula para se alimentar,  e imaginar que em suas casas há computador, wi-fi e familiares capazes de as orientar, é  mais do que subestimar a inteligência das pessoas.

Governadores e prefeitos, em sua maioria, ciosos das atribuições que lhes foi conferida pelo supremo poder, passaram a praticar a política do fecha tudo. Compreensível nos primeiros momentos, mas arbitrária e equivocada no médio e no longo prazo. Principalmente, no que diz respeito ao fechamento das escolas e a adoção do ensino à distância para as crianças sem acesso a internet.

Tais autoridades locais, revestidas de pleno poder executivo para combater a pandemia, não tiveram capacidade, nem vontade política, para impor o retorno às aulas, apesar dos apelos da maioria das famílias, sobretudo as mais pobres, que não podem voltar para o mercado de trabalho pois não têm com quem deixar os seus filhos.

A pressão dos sindicatos docentes contra a volta às aulas e os indicativos científicos, que mostravam o ambiente escolar como controlável e menos contagioso, uma vez que se use com rigor os protocolos de higiene foram mais decisivos aos governantes do que o apelo dos pais. As autoridades estaduais e municipais, sempre tão ativas em assumirem o papel que lhes foi outorgado, demoraram até para gestionarem a favor dos professores como grupo prioritário na vacinação.

O resultado não poderia ser outro. Os governantes ao copiarem ipsis litteris o modelo americano e europeu do stay home, acabaram por agravar a situação, adicionando à crise sanitária, os  problemas econômicos e sociais advindos da interrupção das atividades. Nas várias cidades brasileiras já é comum encontrar pessoas na porta dos supermercados clamando por  alimentos...

O vírus provocou uma crise sem precedentes e o mundo quase parou, segundo afirma Young Tae Kim, Secretário-Geral do  International Transport Forum/OECD. Do transporte local às cadeias de abastecimento globais, nada foi poupado. No tráfego urbano e nas rotas de comércio global, o movimento intenso deu lugar a uma calma assustadora. As estradas ao redor do mundo se parecem com “artérias sem sangue”, afirma.

O setor de transportes se encontra em uma situação totalmente inédita no Brasil. Enquanto governadores e prefeitos lacram pequenas lojas de armazéns, são incapazes de organizar o transporte público, um dos principais disseminadores do vírus, quando mal estruturados. Trens, metrôs e ônibus continuam, em muitas cidades,  com seus veículos e  plataformas de embarque lotados nos horários de pico. Poucas são as medidas eficientes adotadas com o intuito de manter o distanciamento social e o uso correto de máscaras.

No Brasil ainda não se percebeu que o transporte público passou por uma  mudança de paradigma. Os governantes estaduais e municipais precisam tomar medidas urgentes que protejam os usuários e ao mesmo tempo  ajudem o setor a sobreviver, neste momento difícil.

O transporte público nunca mais será o mesmo. Os veículos e plataformas necessitam ser seguros, higiênicos e pontuais. O número de viagens deve ser ampliado com menos passageiross por carro e uma ventilação adequada. O uso dos protocolos de higiene passa a ter o mesmo significado dos ítens de segurança veicular. A saúde do úsuário é de inteira responsabilidade das empresas de transporte e do poder público. Omissão, neste caso,  é crime de lesa humanidade. Afinal, no transporte público, chegou a hora e a vez do usuário!!!

JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS

Doutor em Ciências Humanas e Mestre em História Econômica pela USP, criou e coordenou o Programa PARE do Ministério dos Transportes, foi Diretor do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, Secretário-Executivo do Gerat da Casa Civil da Presidência da República, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de
Florianópolis – Cesusc, Two Flags Post – Publisher & Editor-in-Chief.