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A crise sobre duas rodas
23 de Outubro, de 2025
Palavra do Presidente
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By ROBERTO ALVAREZ BENTES DE SÁ
A crise sobre duas rodas

O Brasil vive uma tragédia anunciada sobre duas rodas. Um estudo recente da Fundación MAPFRE em parceria com o Instituto de Segurança no Trânsito (IST) revela números alarmantes sobre a segurança dos motociclistas no Brasil. Entre 2000 e 2023, a frota nacional de motocicletas cresceu quase nove vezes (de 4 milhões para 35 milhões de unidades), mas o aumento da mobilidade sobre duas rodas trouxe também um aumento desproporcional de mortes e invalidez. Hoje, os motociclistas representam mais da metade das mortes e 85% das vítimas de invalidez permanente em sinistros no país.

O mais preocupante é que essa crise não se resume a números; ela é reflexo de um modelo falido de formação, fiscalização e cultura de trânsito. A maioria dos motociclistas aprendeu a pilotar fora das autoescolas, e uma parcela significativa sequer possui habilitação. Essa informalidade é um dos fatores que mais contribuem para acidentes graves. Por isso, é absolutamente essencial defender a obrigatoriedade das aulas práticas na formação de novos condutores. Somente com instrução presencial e acompanhada de profissionais qualificados será possível preparar o motociclista para os desafios reais das ruas, cultivando pilotagem defensiva, percepção de risco e responsabilidade no trânsito.

Falta também infraestrutura adequada: buracos, sinalização precária e ausência de ciclovias expõem diariamente milhares de trabalhadores ao risco. E quando há fiscalização, ela é frequentemente pontual, punitiva e insuficiente para mudar comportamentos. Soma-se a isso o despreparo emocional e a falta de políticas públicas que enxerguem o trânsito como um espaço de convivência humana e não apenas de circulação de veículos.

É preciso encarar o problema dos motociclistas como o que ele realmente é: uma crise de saúde pública e social. As vítimas são, em sua maioria, jovens, trabalhadores, chefes de família, pessoas que sustentam lares e perdem, em segundos, a capacidade de trabalhar e viver plenamente. Cada morte é uma tragédia pessoal, mas também um alerta coletivo.

O Brasil precisa urgentemente melhorar a formação de condutores, garantindo que as aulas práticas de pilotagem continuem sendo obrigatórias e efetivas, investir em campanhas permanentes de educação no trânsito e assegurar que a mobilidade sobre duas rodas seja acompanhada de segurança, respeito e empatia. Não basta punir; é preciso educar, prevenir e acolher.

Enquanto tratarmos o motociclista apenas como um número nas estatísticas, continuaremos repetindo a mesma história: a de um país que avança na velocidade, mas retrocede no cuidado com a vida.

 

ROBERTO ALVAREZ BENTES DE SÁ

Presidente do MONATRAN - Movimento Nacional de Educação no Trânsito