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Caos recorrente
27 de Abril, de 2025
Palavra do Presidente
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By ROBERTO ALVAREZ BENTES DE SÁ
Caos recorrente

A cada novo acidente ou episódio de chuva intensa, Santa Catarina é forçada a encarar uma realidade perturbadora: o Morro dos Cavalos, trecho da BR-101 em Palhoça, já ultrapassou os limites do risco aceitável. O recente tombamento de um caminhão carregado com álcool etílico, ocorrido em 6 de abril, é apenas mais um capítulo de uma história repetida – trágica e previsível – que escancara a omissão diante de um ponto crítico da principal rodovia do Estado.

Muito além de um acidente “convencional”, o caminhão explodiu, incendiou outros 24 veículos, deixou cinco pessoas feridas e provocou o bloqueio total da rodovia por 16 horas. Um evento extremo, sim, mas que poderia ter ocorrido em outro dia qualquer, como já ocorreu antes. A diferença é que, desta vez, o caos gerado reacendeu o debate sobre a urgência de uma solução definitiva: o túnel duplo projetado para o Morro dos Cavalos.

Este trecho da BR-101 não é apenas um ponto de passagem – é um gargalo. Com cerca de 60 mil veículos por dia, a rodovia é a principal ligação entre a Grande Florianópolis e o Sul do Estado, além de rota fundamental para o Rio Grande do Sul. Quando travada, os impactos se espalham rapidamente por todo o sistema viário, com filas quilométricas, rotas alternativas inexistentes e prejuízos logísticos incontáveis.

O Morro dos Cavalos já protagonizou inúmeros episódios de interrupção total da BR-101. Em abril de 2024, um deslizamento de terra paralisou o tráfego por dias, com crateras abertas na pista. Em dezembro de 2022, o mesmo problema: fortes chuvas e instabilidade geológica resultaram em bloqueios. De 2023 até hoje, foram 94 acidentes registrados no trecho, com 85 feridos e três mortes. Um histórico que revela, mais que fatalidade, negligência.

O próprio ministro dos Transportes, Renan Filho, admitiu a necessidade de uma obra definitiva. Em sua visita a Santa Catarina após o deslizamento de 2024, foi claro ao dizer que “é preciso fazer uma obra que permita segurança e fluidez” no local. O projeto do túnel existe, é debatido há anos, mas segue preso entre promessas e burocracias, enquanto a população lida com os efeitos concretos da inércia.

O que mais precisa acontecer para que essa obra saia do papel? Quantos acidentes, bloqueios e vidas em risco serão necessários até que se trate o problema com a seriedade e urgência que ele exige?

A mobilidade em Santa Catarina não pode continuar refém de um trecho frágil e instável da rodovia mais importante do Estado. O Morro dos Cavalos não é só um ponto geográfico – é um símbolo da falta de planejamento de longo prazo e da ineficiência em enfrentar os desafios estruturais com responsabilidade.

O caos instalado a cada novo incidente já não surpreende. O que causa espanto, a esta altura, é a ausência de ações concretas.

ROBERTO ALVAREZ BENTES DE SÁ

Presidente do MONATRAN - Movimento Nacional de Educação no Trânsito