A recente análise da Polícia Rodoviária Federal (PRF) lança luz sobre uma preocupante realidade: ao longo de 15 anos, os acidentes de trânsito nas rodovias federais brasileiras tornaram-se 50% mais letais. A meticulosa observação dos dados desde 2007 revela um quadro alarmante, onde a redução de sinistros não traduziu-se proporcionalmente em uma diminuição no número de mortos.
Os números mostram que, em 2007, foram registrados 127.671 sinistros e 6.742 mortes, uma proporção de uma morte a cada 19 sinistros. Já em 2022, foram 64.547 sinistros e 5.439 mortes, uma morte a cada 12 sinistros. Ou seja, nesse lapso de tempo o número de sinistros cai praticamente pela metade (49,44%), mas a queda no número de vítimas fatais foi de apenas 19,33%. Isso reflete a maior gravidade desses eventos evitáveis, retrato do aumento da imprudência, da intolerância e da violência no trânsito.
O panorama se agravou a partir de 2019, marcando o fim de uma sequência de quedas nos índices de sinistros e mortes. O Brasil, desde então, testemunha aumentos anuais na violência viária, clamando por uma análise crítica e medidas assertivas.
Sem dúvida alguma, o fator humano é responsável por 90% dos sinistros. Entre as causas preponderantes, destaca-se o excesso de velocidade como o principal vilão, coadjuvado pela imprudência e desrespeito à legislação vigente. A correlação direta entre a velocidade excessiva e a letalidade dos acidentes demanda uma resposta urgente e eficaz por parte das autoridades.
Urge, portanto, investir em políticas públicas de médio e longo prazo para reverter essa tendência sombria. Vale destacar que uma política pública que pretende salvar vidas deve fazer intervenções nas vias que reduzam ou minimizem os riscos de acidentes, o que chamamos de rodovias que perdoam. Essa expressão se usa para se referir a rodovias projetadas para reduzir os danos provocados por eventuais falhas humanas.
O reforço na fiscalização, aliado a ações educativas que promovam a conscientização dos condutores, também são medidas cruciais. Além disso, investimentos substanciais em infraestrutura viária são fundamentais para criar ambientes mais seguros e propícios à redução de acidentes. Enfim, é preciso atuar em diversas frentes para obtermos um resultado consistente na diminuição dessas mortes evitáveis.
Todavia, faz-se necessário enfatizar que a segurança no trânsito é um compromisso coletivo que transcende as fronteiras de qualquer governo ou instituição. A sociedade, os órgãos de fiscalização e os gestores públicos devem unir esforços na construção de um cenário onde as estradas sejam sinônimo de vida, não de luto.
Presidente do MONATRAN - Movimento Nacional de Educação no Trânsito