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Na Contramão da História
27 de Agosto, de 2025
Artigo
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By JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS
Na Contramão da História

O trânsito brasileiro sempre foi marcado pela violência. Décadas de estatísticas comprovam essa dura realidade, que já ceifou milhões de vidas. Mas o que se vê hoje é mais do que a repetição de um problema antigo: é o agravamento de um quadro histórico pela perda de confiança nas instituições e pela insegurança jurídica que se instalou no país.

O excesso de interpretações da Constituição, muitas vezes moldadas para proteger alguns, gerou um ambiente de descrédito. A sociedade passou a enxergar que a lei pode ser elástica, adaptada às conveniências do momento. Esse mau exemplo, vindo de cima, contamina a base: se no plano institucional a regra parece opcional, por que respeitá-la nas ruas?

O resultado é visível no trânsito. Normas existem em abundância, mas são aplicadas de forma irregular. Pedestres atravessam inseguros, motoristas confiam na impunidade, motociclistas e ciclistas arriscam-se como se estivessem em campo de batalha. O que antes já era um problema de violência crônica tornou-se, agora, reflexo de uma sociedade em que a previsibilidade da lei se esvaiu.

Não é coincidência que países que mantêm instituições firmes e leis claras tenham trânsito mais civilizado. Lá, o respeito às normas não depende do humor das autoridades nem da seletividade das punições. A lei é simples, estável e igual para todos. Aqui, ao contrário, a instabilidade jurídica repercute diretamente no asfalto, tornando-o símbolo da crise mais ampla que atravessamos.

Entre os valores que moldaram a civilização ocidental, um é inegociável: a liberdade de expressão. Quando ela se enfraquece, toda a estrutura da convivência democrática vacila. Sem o direito de falar e divergir, não há diálogo, não há confiança e não há futuro.

Às vésperas do final de ano, a preocupação se intensifica. É nesse período que o fluxo de veículos cresce de maneira exponencial em direção às áreas turísticas, multiplicando riscos nas rodovias já sobrecarregadas. Quando se soma o aumento da circulação ao ambiente de insegurança jurídica e institucional, o resultado pode ser desastroso: mais acidentes, mais vítimas e mais vidas interrompidas por um sistema que falha em oferecer ordem e previsibilidade.

É justamente nesses momentos de maior pressão que se revela a solidez de um país. Se a lei não for clara, estável e aplicada com igualdade, o trânsito se tornará ainda mais violento e a sociedade mais vulnerável. A contramão da História é insistir na permissividade, no improviso e na tolerância com a desordem. O caminho correto é resgatar a autoridade da lei, valorizar a cidadania e dar ao povo o exemplo que vem de cima.

Seguir na contramão da História significa aceitar que a desordem institucional se traduza em violência cotidiana. Retomar o rumo exige restaurar a autoridade da lei, aplicando-a com clareza e igualdade. Só assim será possível devolver ao trânsito e à sociedade a confiança de que a vida em comum se sustenta na justiça e no respeito.

JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS

Jornalista, Mtb 0083569 / SP/BR, Doutor em Ciências Humanas e Mestre em História Econômica pela USP, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de Florianópolis – Cesusc, Membro Titular da Academia Brasileira de História, Comendador da Veneranda Ordem dos Cavaleiros da Concórdia, foi Prof. Adj. Dr. da UFSC, criou e coordenou o Programa PARE do Ministério dos Transportes, ex-Diretor do Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN, Secretário-Executivo do GERAT da Casa Civil da Presidência da República, Conselheiro Consultivo do Movimento Nacional de Educação no Trânsito – MONATRAN e TWO FLAGS POST – Publisher & Editor-in-Chief.