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Na Rota da Violência e da Censura
26 de Setembro, de 2025
Artigo
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By JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS
Na Rota da Violência e da Censura

O trânsito brasileiro, há décadas marcado pela violência, deixou de ser apenas um problema de segurança viária para se transformar em reflexo da crise institucional que atravessamos. As estradas e ruas do país, repletas de insegurança e mortes, revelam o que acontece quando a lei perde sua força orientadora e passa a ser moldada por interesses circunstanciais. A anarquia no asfalto é a metáfora visível de um sistema jurídico que já não transmite previsibilidade nem confiança.

Ao observarmos países como Japão, Alemanha ou Estados Unidos, notamos que a ordem no trânsito nasce da solidez das instituições e da confiança de que a lei é estável e aplicada indistintamente. Lá, parar diante de uma faixa de pedestres é gesto natural de cidadania. Aqui, muitas vezes é ato de risco, porque a norma existe, mas não garante proteção. O mesmo ocorre com as liberdades: quando a lei vacila, o medo se instala.

Entre todas as garantias individuais, a liberdade de expressão é a mais sensível e decisiva. Quando sofre restrições, toda a estrutura democrática se fragiliza. A censura, ainda que velada, produz o mesmo efeito corrosivo da impunidade no trânsito: gera descrédito, mina a confiança e transmite a mensagem de que regras são opcionais. Assim como o motorista que avança o sinal porque sabe que dificilmente será punido, o poder que sufoca a palavra abre caminho para a submissão e o medo.

O Brasil corre o risco de consolidar um duplo colapso: nas ruas, um trânsito que se comporta como campo de batalha; no espaço público, uma sociedade que teme falar. Ambos os dramas nascem da mesma matriz: a instabilidade da lei e o exemplo desastroso que vem de cima. Um país que não respeita a previsibilidade jurídica tampouco pode exigir disciplina no tráfego ou confiança na convivência.

Estamos às vésperas de mais uma temporada de viagens, quando milhões de veículos se lançam às estradas em direção a áreas turísticas. O aumento exponencial do fluxo viário se soma ao ambiente de insegurança institucional e cria a tempestade perfeita: mais acidentes, mais vítimas, mais vidas interrompidas. Não se trata apenas de falha estrutural ou de ausência de fiscalização. É o sintoma de uma sociedade em que a lei perdeu autoridade e a cidadania deixou de ser plenamente protegida.

A História mostra que as nações que escolheram o caminho da ordem, da igualdade perante a lei e da liberdade de expressão colheram sociedades mais seguras, prósperas e civilizadas. Aquelas que cederam à arbitrariedade, ao improviso e à censura mergulharam em crises sucessivas. O Brasil precisa decidir em qual estrada deseja seguir. Continuar na rota da permissividade e da violência, ou resgatar a autoridade da lei e a dignidade da palavra.

O trânsito, como já ressaltamos anteriormente, é a face mais cruel do que está em jogo. Cada sinal ignorado e cada vida perdida revelam a erosão de valores maiores que sustentam a convivência democrática. Se não houver coragem de restaurar a liberdade e a igualdade jurídica, as ruas seguirão como espelho de um país que perdeu o rumo.

Na rota da violência e da censura, não há futuro. O amanhã só se constrói quando a lei volta a valer para todos e a voz do cidadão não é silenciada.

JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS

Jornalista, Mtb 0083569 / SP/BR, Doutor em Ciências Humanas e Mestre em História Econômica pela USP, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de Florianópolis – Cesusc, Membro Titular da Academia Brasileira de História, Comendador da Veneranda Ordem dos Cavaleiros da Concórdia, foi Prof. Adj. Dr. da UFSC, criou e coordenou o Programa PARE do Ministério dos Transportes, ex-Diretor do Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN, Secretário-Executivo do GERAT da Casa Civil da Presidência da República, Conselheiro Consultivo do Movimento Nacional de Educação no Trânsito – MONATRAN e TWO FLAGS POST – Publisher & Editor-in-Chief.