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O trânsito brasileiro assusta - e com razão
29 de Setembro, de 2025
Palavra do Presidente
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By ROBERTO ALVAREZ BENTES DE SÁ
O trânsito brasileiro assusta - e com razão

Dirigir no Brasil é, para muitos, mais do que um desafio cotidiano — é uma verdadeira prova de resistência física, mental e emocional. A sensação de risco constante nas ruas e estradas do país foi recentemente confirmada por um estudo internacional que colocou o Brasil entre os países mais assustadores do mundo para se dirigir. A pesquisa, realizada por um site britânico especializado em mobilidade, avaliou 49 nações e classificou o Brasil na 8ª posição entre os piores lugares para conduzir um veículo. É uma colocação alarmante, mas que, para quem vive a realidade do trânsito brasileiro, não surpreende.

Esse resultado revela, mais uma vez, a gravidade do cenário viário nacional. O que torna o trânsito brasileiro tão temido, aqui e lá fora, é a combinação de fatores que se repetem há décadas: vias mal conservadas, sinalização precária, fiscalização irregular, formação deficiente de condutores e um comportamento coletivo que normaliza o desrespeito às leis de trânsito. Soma-se a isso a cultura da impunidade, em que infrações graves muitas vezes não geram consequências proporcionais, e temos um ambiente propício à violência no tráfego.

Mas os impactos desse cenário vão além dos sinistros e das estatísticas. Afetam diretamente a mobilidade urbana, a saúde pública, o sistema hospitalar, a economia e até mesmo a imagem internacional do país. Para estrangeiros, o trânsito brasileiro é percebido como um risco real, o que afeta setores como o turismo e compromete a sensação de segurança em nossas cidades. Para os brasileiros, o problema é ainda mais profundo: trata-se de um cotidiano marcado pelo medo, pela pressa e por perdas irreparáveis.

O que agrava ainda mais essa realidade é a falta de continuidade nas políticas públicas voltadas à mobilidade e à segurança viária. A cada mudança de governo, projetos são abandonados, planos são interrompidos e programas bem-sucedidos perdem força por razões políticas ou orçamentárias. Parece haver uma tendência a governar apenas para o próprio mandato, em vez de construir soluções de longo prazo que ultrapassem interesses partidários e deixem um legado duradouro para a população. Essa descontinuidade mina os avanços e perpetua a sensação de que o trânsito brasileiro está sempre recomeçando — mas nunca evoluindo de fato.

A mudança desse quadro exige mais do que campanhas ocasionais ou ações emergenciais. É preciso tratar o trânsito como uma política pública estratégica, com foco em planejamento urbano, mobilidade segura, engenharia viária moderna e, acima de tudo, educação continuada. Não se constrói um trânsito seguro apenas com radares ou obras pontuais. É necessário formar uma nova cultura, onde o respeito às regras seja um valor coletivo e a preservação da vida, um compromisso real.

Estar entre os países mais perigosos para dirigir não é apenas um dado vergonhoso. É um alerta — urgente e incontestável — de que o Brasil precisa, definitivamente, repensar suas prioridades. O trânsito não é um problema isolado: é um reflexo do modo como gerimos o espaço público, lidamos com o outro e valorizamos — ou não — a vida humana.

 

ROBERTO ALVAREZ BENTES DE SÁ

Presidente do MONATRAN - Movimento Nacional de Educação no Trânsito