A proposta de extinguir a obrigatoriedade das aulas em Centros de Formação de Condutores (CFCs) para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é mais do que equivocada — é uma ameaça direta à segurança no trânsito, à economia nacional e ao bem-estar social de milhões de brasileiros.
À primeira vista, pode parecer uma medida popular: facilitar e baratear o acesso à habilitação. Mas os impactos estruturais dessa mudança são vastos e perigosos. A formação de condutores não é um obstáculo burocrático. É, comprovadamente, uma política pública de prevenção. Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostram que o treinamento estruturado é um fator decisivo para reduzir acidentes, hospitalizações e mortes no trânsito. E o Brasil, que já amarga cerca de 33 mil mortes por ano nas vias, não pode se dar ao luxo de flexibilizar ainda mais esse processo.
Os números falam por si. A extinção dos CFCs colocaria em risco cerca de 300 mil empregos diretos e indiretos em um setor que movimenta mais de R$ 5 bilhões por ano em massa salarial. Isso, por si só, já deveria alarmar o governo, especialmente em tempos de instabilidade econômica. Mas o impacto vai além do desemprego. Estamos falando de R$ 14 bilhões em perdas anuais de faturamento, quase R$ 2 bilhões em queda na arrecadação tributária, e o agravamento da sobrecarga sobre o SUS e programas sociais, como o Bolsa Família.
É ingenuidade — ou irresponsabilidade — imaginar que motoristas mal preparados não trarão consequências. Acidentes de trânsito já representam cerca de 3% do PIB brasileiro, considerando custos com internações, reabilitação, perda de produtividade e danos materiais. Reduzir ou eliminar a formação técnica e teórica não é apenas um risco, é uma aposta com vidas humanas.
Os CFCs representam não apenas um setor econômico consolidado, mas uma rede nacional de educação para o trânsito, que atua há décadas em prol da segurança coletiva. Sua eliminação representaria um retrocesso civilizatório. Trata-se de desmontar uma estrutura que ajuda a salvar vidas, gerar empregos formais e arrecadar recursos essenciais para políticas públicas.
A proposta do governo, além de tecnicamente frágil, ignora os dados, despreza os alertas de especialistas e ameaça tornar o trânsito brasileiro ainda mais violento. O problema não é o custo da formação, mas sim a falta de investimentos e incentivos públicos para que ela seja acessível. Baratear a CNH à custa da segurança e da qualidade da formação não é solução. É omissão.
O Brasil precisa de mais educação no trânsito, não menos. Precisa de políticas que protejam vidas, gerem empregos e fortaleçam a cidadania. Extinguir os CFCs vai na contramão de tudo isso. A sociedade brasileira não pode aceitar esse retrocesso.
Presidente do MONATRAN - Movimento Nacional de Educação no Trânsito