Aqui não tem escolha, esquerda ou direita, ambos os lados estão absolutamente comprometidos e, note, não se refere a política, apesar das semelhanças.
O trânsito de Florianópolis, ao longo do ano, já está saturado. Nesta temporada de 2024 entrou em colapso, não importa para onde se vá e o lado que pretenda escolher.
O mais interessante é que os atores políticos e seus coadjuvantes, alguns jornalistas e a mídia consorciada, fazem questão de mostrar poções mágicas capazes de uma hora para outra, como num passe de mágica, criar soluções dignas de um teatro de fantoches.
Certo que se está na ilha da magia, mas não existe truque capaz, de uma hora para outra, fazer passar pelo buraco de uma agulha um trânsito congestionado, que já não cabe mais em vias estreitas, com curvas perigosas e gargalos constantes.
Os mágicos de plantão e os especialistas de araque parecem não conhecer as experiencias nacionais e internacionais da engenharia de trânsito e, certamente, poucas viagens fizeram para conhecer outros modelos técnicos. O resultado todos sabem, reinventa-se a roda, nada se cria e tudo se copia, ou melhor, menos os principais avanços do setor, que necessitam de conhecimento científico atualizado.
Alguns meios de comunicação locais, repercutindo o incrível conhecimento de alguns administradores públicos, se empolgam com medidas pontuais para resolver a fluidez do trânsito, tais como, tirar a carga pesada das pistas congestionadas em determinados horários, ou a velha e desgastada cantilena de alargar as vias, ou a solução provisória dos gargalos, jogando para mais adiante do caminho a concentração do fluxo. A operação de enxugar gelo, corre o risco de ser enaltecida por quem divulga fatos, sem estudá-los e sem compará-los, com situações idênticas ocorridas em outras épocas ou lugares.
Todos sabem, e não precisa nem desenhar, que em tais situações, parafraseando Djavan, aparecem os lobos correndo em círculo para alimentar a matilha, ou melhor a alcateia, em um português escorreito. Ou, como diz Roberto Motta: “o mundo está cheio de predadores. Esses são os lobos”, que rodeiam o poder, tiram da cartola soluções de curto prazo, que não resolvem o problema como um todo, amenizam situações, satisfazem os políticos, alegram alguns meios, ditos de comunicação, enganam o cidadão e tapeiam o eleitor.
Este “pedacinho de terra perdido no mar, cristal onde a lua vaidosa, sestrosa, dengosa, vem se espelhar", merece muito mais, exige respeito e está farto das enganações às vésperas de eleições.
Alargar vias, criar terceiras faixas em trechos exageradamente críticos, tirar a carga pesada em determinados horários são medidas plausíveis, mas não resolvem o problema como um todo.
Torna-se necessário renovar as equipes técnicas, mandar os engenheiros de trânsito se qualificarem no Brasil e no exterior, estimular as universidades a renovar metodologias cientificas e a ser mais técnicas e menos ideológicas.
É inconcebível que em pleno século XXI este “pedacinho de terra perdido no mar” continue de costas para as águas calmas entre a ilha e o continente e não tenha um transporte público marítimo de qualidade, operado por empresas privadas, e com terminais em diversos pontos de ambos os lados, dotadas de instalações modernas com bares, restaurantes, shoppings, supermercados, etc., explorando o que todos buscam em uma ilha que é a vivência direta com o mar.
Da mesma forma, uma ilha com as dimensões desta, necessita urgente do monotrilho, que pode e deve ser construído sobre as vias saturadas. Estruturas modernas, absolutamente silenciosas e não poluentes, com composições flexíveis que diminuem e aumentam de tamanho conforme a demanda do horário, interligada com os outros modais de transporte, como os serviços de ônibus que se ramifica a partir das estações, é uma demanda urgente, sem a qual não se soluciona o colapso já instalado.
O belo exemplo de Nova Roma, na Serra Gaúcha, que não esperou pelo Governo do Estado para reconstruir a ponte sobre o rio das Antas, e por mobilização da população e dos empresários levantou os recursos necessários para resolver o problema do trânsito e do transporte, mostra que o papel da cidadania e da iniciativa privada, é maior que o poder do Estado.
Muitas dessas medidas dependem da mobilização do empresariado, da população e da força do eleitor, que este ano pode escolher o atraso de um ou de outro lado ou, com coragem, mostrar a força que tem!!!
Doutor em Ciências Humanas e Mestre em História Econômica pela USP, criou e coordenou o Programa PARE do Ministério dos Transportes, foi Diretor do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, Secretário-Executivo do Gerat da Casa Civil da Presidência da República, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de
Florianópolis – Cesusc, Two Flags Post – Publisher & Editor-in-Chief.